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… Nada Ser

 

Nada sou!
E contudo, sou.

Sou, porque tu és,
porque fazes com que seja.

Vamos dar asas ao desejo.
Explorar o lugar onde o tempo pára
ou atravessar a pálida névoa
no cosmos das águas tranquilas,
onde reside o verbo,
onde o espírito se aquece
e a alma se refresca.

Vamos dar asas ao desejo.
Mergulhar no impulso do inúmero
ou calcorrear as cascatas do céu
no infindo das terras sagradas,
onde tudo é harmonia,
onde se vê o incomensurável
e se sente o improvável.

Sim, vamos dar asas ao desejo!
Deixar que ele nos leve à génese do ser
e ser qualquer nudez na fluidez do nada.

Se nada sou
e mesmo assim sou,
deixa-me Nada permanecer
e contigo apenas Ser.

in Interlúdios da Certeza


Cartas Frente ao Mar (XIV)

Minha Querida,

há momentos em que o poema do Mar Céu mais me chama.
Quando as orlas das vagas são crinas de luz que anunciam o amanhecer.
É nesse apelo que sinto a sua vibração. No silêncio do horizonte índigo.

Contudo, as mesmas águas que tecem o nosso amor são a razão da distância, numa razão que, simultaneamente, me fortalece e enlouquece.

É nesta condição que percorro as areias da fronteira, aspirando a transfiguração que possa levar o meu vibrato até si, expressando o Verbo que me dilacera neste tempo de ausência.
Percorro os grãos dourados suspirando pelas névoas matinais, onde raios de luz moldam a sua face.
Só assim é que, num ténue e incessante arrepio que me arrebata em ondas de paixão e nostalgias, os seus lábios me tocam.

Frente ao Mar, as saudades são uma certeza!
No entanto, também afastam os ventos da tristeza dando som à voz do coração, onde me preencho em lembrança.

Mas serão as minhas cartas suficientes para acalmar as águas revoltas?

Por isso, é na praia que solto as lágrimas!
Para a união do desejo, para a redenção do amor que renasce no embalo das ondas.
Sim. É na praia que liberto as lágrimas!
Porque as pérolas são necessárias à beleza.

Enquanto houver ondas, o meu amor será constante.
E nos dias em que o mar se reveste jade, mais brilha a sua recordação em mim.

Um beijo terno, doce alma

V.


I

 

árvore!
horizonte!
consciência!
profundo!

É nesse ondular que
se cruzam as múltiplas dimensões.

sopros caídos, acenos escritos.

 


Cartas frente ao Mar (XIII)

Minha Querida,

Talvez tenha razão quando diz que a distância nos protege. Talvez?

Dois oceanos persistem entre nós!
Duas vastidões de vida e tempo que perfazem o revestimento da distância. No entanto, é a distância que sustenta o meu desejo.

Eis porque a sua presença na minha existência e a sua lembrança no meu coração são primordiais. Por elas chegam até mim as aragens quentes do seu corpo em universo.

E a consciência da entrega plena emerge revigorada.
Só falta reunir um plano existencial já que todas as noites fundo-me na sua divindade, alimentando a chama viva do amor.

Não sei o que amanhã trará, mas sei que o nosso Ser está inscrito no tempo.
Um dia essa distância irá desaparecer. Afinal, todo o oceano se cruza, todas as águas são correntes a percorrer.
Estenda os braços e juntos faremos a ponte!

Contemplo o som laranja do entardecer que se funde no azul denso do horizonte.
Todo esse momento é um suspiro, uma passagem para o sonho, para o reencontro dos corpos.

Quero-a como essência integral. Como divindade e mulher!

Por isso, navegarei as ondas tempo sem as provocar, embalado no ritmo da paixão.
O importante é senti-la aí. Assim, será aqui. Em mim!

Um beijo terno, doce alma

V.


Cartas frente ao Mar (XII)

Minha Querida,

Talvez seja devido às brisas oceânicas que me envolvem que me sinto mais amado.

O verde das paisagens – tão intensamente choradas – abertas à varanda chegou até mim. Assim como a pura crina branca que galopava livre, adornando o dorso das montanhas nas manhãs em Sol breve, no Inverno.

Há lembranças que passam a ser nossas!

Entrego-me aos sons do silêncio para ser no sentir das suas palavras, pois são palavras que adoçam a distância suavizando a saudade.
E o meu olhar regressa ao mar por saber que o querer vive para lá do horizonte.

Houve um renascer nas águas que fazem este universo que nos banha.
No jardim das constelações, deu-se o milagre duma nova energia, duma nova vida.

Sinto uma nova flor de diamante na noite. E é durante o manto denso que venho sentir o horizonte das águas.
Em breves instantes, sonhados, é certo, crepitam milhões de faúlhas prateadas.
Presentes do luar! Embevecidos com a singularidade a que se assiste: a união entre as águas e o céu, onde as mais imaculadas estrelas cadentes descaem em desejo.

Nesse horizonte, também eu me rendo ao Amor. E pergunto, esperançoso: Posso ser luz em seu corpo?

Querida, há lembranças que deixam de estar sós! E amanhãs que virão.
Eu? Sonho com um amanhã unido a, e em, si.

Até lá, todos os dias, a sua recordação renasce no meu coração.

Um beijo terno, doce alma

V.


Calendário


Tempo…fermo, originally uploaded by mareluna_99.
 

marca-se o tempo da existência
na existência em tempo.

mas o tempo tem uma existência
diferente da existência no tempo.

do Tempo brotam os tempos em vida,
da Existência surgem as existências em Ser.

Tempo?
Existência?
águas no mesmo lago de luz.

e, no fluir do In-finito, tudo é passagem!

talvez seja mais um tempo para a consciência intemporal?

talvez seja aniversário?

 


Cartas frente ao mar (XI)

Minha Querida,

avizinham-se novos tempos.

Há um distanciamento nas auras singulares que revela a partida do horizonte.
Apesar da luz que as conforta, as águas estão diferentes.

Sempre soube que existem luzes intemporais que se reencontram no temporário que faz as diferentes vidas, voluntariamente experimentadas.
É precisamente o Ser na entidade cósmica da Luz que nos impele a seguir.

Já o afirmei antes, reafirmo-o aqui: é nos reencontros que mais vibro.
Não tenho qualquer dúvida que é a (re)iniciação temporal que leva ao assumir na consciência universal. Não há plenitude sem aprendizagens nos tempos.

Nem todos temos os mesmos instantes de partida, mas mantemos o elo que nos faz no contínuo.
Haverá sempre cristalinos que nos levem a este mar e ventos que multipliquem os beijos aqui trocados.

Contemplo abóbada celeste do meu coração.
Os diamantes azuis que aí pulsam jamais deixarão que seja lembrança.
Será sempre essência viva em mim.

Despeço-me destas águas sem momentos de tristeza, pois o meu eu é gratidão.
Mas deixo este desejo:
Aceite as carícias da brisa!

Aguardo-a em novos mares azuis celestes, onde os cânticos do silêncio chamam.

Um beijo terno, doce alma

V.


In-finito

 

é nas marés altas,
em azul denso,
que flutuam sois prateados.

nessas vestes,
pintam-se os sonhos e os desejos.

no índigo primordial!

 


Pela Voz do multiVerso

 

foi-me dito em sonhos:

sê coerente contigo mesmo e luta pelas coisas que desejas,
sempre dentro da verdade e no respeito pelos outros.
segue esse caminho e o mundo abrir-se-á para ti.

não queiras ser mais, mas melhor!
primeiro interiormente.
depois, pelo possibilitar aos outros.

foi-me dito em sonhos,
pela Voz do multiVerso!

 


Colar de Pérolas

Fractal Universe (Rodd1h_2048b), originally uploaded by roddh.

 

procuro lágrimas a oriente.
em campos turquesas!

e envio-tas nas correntes dos mares do universo azul.

ser-te-ão colocadas,
como um sussurro de estrelas ténues,
pelas águas suspensas nos céus da saudade.

 


Cartas frente ao Mar (X)

Minha Querida,

Senti o chamar das águas e vim até à foz da saudade.

Está um belo dia de Inverno. Pleno em temperaturas delicadas e em suaves brisas que nos trazem os afagos dos sonhos.
É como tal que sou fluência cósmica, ondulando entre auras harmoniosas e envolto em abraços de luz solar.

Fecho os olhos e entrego-me à meditação do divino.
A entidade universal chama-me. Quer comungar comigo!
Como senhor do tempo, não me é difícil evocar as eras, e recordo o indizível que somos.
Todos somos parte nos átomos do nós, do MULTI-VERSO.

É-me lembrado algo que já lhe disse: “O português é a expressão litúrgica do cosmos”.
É assim que sei que o amor que nos une ao Verbo é crescente. E que também está ao alcance de qualquer pessoa.

Por isso escrevo.
Não apenas para permitir a pronunciação da melodia distinta que é a nossa língua, como também para contribuir para a expansão deste amor.
É pela expressão do verbo que revivemos o Verbo original.

Percebe agora porque é o mar que liga os mundos?
Percebe agora o significado destas cartas?

“O princípio criador do Todo é a desigualdade.
Eis porque nenhuma vida é igual! Eis porque qualquer uma é especial!”

Percebe porque insisto nesta verdade?

“e o amor é o elo vital que nos une no respeito por outras vidas.
e o amor que temos por algumas é superior.”

Escrevi isto nos Diálogos. Em breve também serão intermitências da consciência.
Aguarde, por favor.

Um beijo terno, doce alma

V.


Cartas frente ao Mar (IX)

Minha Querida,

Vim até ao Mar. Brevemente, mas vim. Até si!

Não disse uma única palavra. Apenas a senti em silêncio.
E beijei-a, terna e apaixonadamente, aconchegado na lembrança.

O meu peito rebenta em emoção. Anseia pela sua voz, por essa sua suave expressão, que me estremece completamente.
Transbordo em sentir por saber o que pulsa incontrolável dentro de mim. Tenho tanto medo de a perder! Por isso, agarro-me à esperança.

É assim que de novo vejo o Mar. No mesmo lugar de ontem.

Hoje, as águas estão amenas e a luz é outra.
O instante da origem ocorreu e fui recriado. Foi um tsunami que me varreu!
Não foram apenas as águas que me preencheram. A sua voz abalou-me.
Há uma menina do Mar em si. Que voz doce e meiga! Nunca tinha ouvido uma sereia!

Ainda estou envolvido nas palavras incorporadas em silêncio.
Tudo ou nada? Respondi tudo. Recebi, nada.
Como desejava essa resposta!
Só se alcança o todo se este for formado pelo tudo e pelo nada.

Sabe, o amor tem que ser intenso e permanentemente rasgado por instantes de paixão!
E por si, sou arrebatado sem resistência. Em coerência com o sentir, pois não sei ser de outra maneira.

Se não me quiser, serei lágrimas desgarradas. E todas elas a amarão.
Mas continuarei a ser! Mesmo em cristalinos, que entregarei ao correr dos tempos como flores de luz azul que nos guiarão ao reencontro eterno.
Que inevitavelmente acontecerá!

Sei-o porque sou Multiverso. Dele criador e nele autor do tempo.
Mas acima de tudo, aqui, neste instante gerador de futuro, sou esperança.
E amor. Em azul!

Novos mares nascem, mas nós permaneceremos e criaremos em Luz.
Não pense. Sinta-o!

Um beijo terno, doce alma

V.


Harmonia

Blue Water Droplets, originally uploaded by Jacob Y.

 

ouvia,
enlevado,
a melodia divina

– que apenas é possível nas cordas da Harpa imemorial –

quando te reconheci ser
existência que já foi nossa.

dez mil eons aconteceram,
outras circunstâncias nasceram.

mas o Verbo é expressão da essência que nos faz,
que nenhuma distancia supera.

as palavras reúnem-nos.

somos uno plural!
vida em vidas
entregues ao reencontro eterno.

e no canto da brisa nocturna,
que passa por mim, serena,
pergunto:

amor?

e beijo-te,
integralmente.


Cartas frente ao Mar (VIII)

Minha Querida,

 

Chove abertamente!

Estou aqui, na orla do desejo, a olhar para o profundo e para o alcance do véu lúgubre que abraça os ambientes informes, já rendidos ao seu estranho ardor.

 

No horizonte há luz que não se vê!

Como se a génese da criação fosse de novo ocorrer.

Assim, nesta tarde escura de Inverno, sou banhado na junção das águas distintas, no diálogo dos elementos translúcidos. Completamente trespassado pela lembrança da sua voz!

Mas vim aqui porque senti o chamar. Abrigo? Só no calor do coração. E como o desejo.

 

Relâmpagos acontecem em mim, e relembro palavras anteriores.

Não somos o que já fomos. A lei da evolução assim o pede. E é de livre vontade que ao pedido dela acedemos.

Embora reconheça o seu início, o sua actual luz já não é a mesma. É outra. Mais vibrante, mais pulsante. E assim deve ser, pois todos os nossos fragmentos completam a vivencia das diferentes eras.

O reconhecimento, que ocorre nos reencontros, é o ímpeto do desenvolvimento. Sem este impulso não haverá futuro. Não concorda? Não quer o reconhecimento ou o futuro?

 

Como querendo algo, as luzes da natureza despertam-me para outras recordações.

Quanto já nos integramos em tão pouco tempo? É isso assim tão estranho? Será acaso? Ou a manifestação da singularidade em desígnios superiores? Não nos procurámos?

Como tal, não se trata de dependência, mas sim de convivência. De entrega. De querer. E até de amor. Porque não?

Poderá, para além dos receios, haver arrependimento? Mas o seu sentir é genuíno. E …

 

Desculpe-me não continuar. Estou triste! Há algum problema em afirmá-lo? Nunca tive medo de mostrar o que sentia, porque haveria de começar agora? Seria até irónico que tal acontecesse depois de assumir a prevalência do meu Eu sensorial. Mas a verdade é que o Eu racional começa a manifestar-se. Provavelmente serão defesas. O usar de instrumentos analíticos para suavizar o impacto do que prevejo aproximar-se. Talvez?

 

Também por isso, e já não me restam dúvidas, estou profundamente triste. Tanto que não consigo impedir cristalinos salgados. Seja! Também estes momentos nos fazem e preenchem!

 

Contudo,  tenho tanto para lhe dizer. E no entanto, nas ondas revoltas do meu mar interior, estas – JAMAIS A ESQUECEREI! Quanta ternura há no seu nome? – subjugam todas as outras.

 

Agradeço o seu cuidado e carinho, que sinto integralmente, mas não se preocupe. Remeto-me ao silêncio do amor que existe na minha amizade. Sincera! Plena! Mas sem jamais ser imposta.

 

E não tenha medo ou dúvidas porque sempre escreverei frente ao Mar. São a expressão do meu coração.

Pergunto-me se chegam ao seu? Como gostaria de saber.

 

Mas talvez não precise de mim? Não importa! Estarei sempre em esperança. Para de novo ouvir a sua voz. Perguntará pelos impulsos?

Um beijo terno, doce alma

 

V.


Quis

ser asas em noite azul
ou beijo desprendido ao acaso

e não mais esquecer.


em Azul

Azul (3), originally uploaded by ancama_99(toni).

 

uma pena solta.
um ramo suspenso.
uma página aberta ao futuro.

Deusa do jardim das safiras,
levitas no lago etéreo do desejo,
na amalgama das eras,
entre as encostas de meu peito
e mares em índigos sonhados.

floresce uma rosa, qual semente no coração.

marcas do tempo subsistem,

mas o Verbo da criação
é o livro azul da origem,

onde somos In-finito!


Símbolos

 

as nuvens são hieróglifos magnéticos
suspensos no tempo azul.

É em sânscrito que se escrevem as enseadas!


Blue Clouds, originally uploaded by Philippe Sainte-Laudy.

Cartas frente ao Mar (VII)

Minha Querida,

Não sei que lhe dizer. Não pelo motivo aparente, mas por já o pressentir.

Sim, já o sabia. Só não distinguia a origem. Se a mente, se o coração.
Independentemente, não deixo de me banhar as águas desconsoladas.

“Nada é igual ao inicio. Tudo evolui!”. Recorda-se destas palavras?

Toda a Vida se renova! Toda a Alma se transfigura!
O que vier, será bem recebido, pois toda a existência é uma dádiva de desígnios maiores que nós. E os descansos são necessários, pois até a essência reflecte para se purificar.

Pode não regressar ao mesmo tempo humano, mas continuará a ser no tempo do divino. Afinal, todos somos fragmentos presentes no tempo maior.

É precisamente neste sentir que a minha esperança se reanima. E de todos os tipos de memória que existem, a sua, em mim, será sempre viva e livre no universo do meu coração.
Assim, tenho esta certeza. Jamais permanecerá no jardim do esquecimento.

Eis uma das colunas do meu âmago:
É o tempo que nos une.
E o reencontro dar-se-á na Luz da Criação, em comunhão com o Divino.

Por isso, afirmo-lhe que continuarei a escrever em frente ao mar, cuja essência, enleva o espírito ao cósmico. É nas lágrimas dessa água, as translúcidas gotas de sangue do universo, que as minhas cartas seguirão.

E nunca se esqueça que é nos reencontros que mais vibro.

Um beijo terno, doce alma.

V.


Cartas frente ao Mar (VI)

Minha Querida,

Porque não somos alheios, nem devemos ser distantes, ao todo que nos rodeia, não deixo de perceber várias influências no seu expressar. Externas. E algumas bastante indirectas!
Num Ser de tamanha sensibilidade, não é de admirar. Nem é de espantar que a sua dimensão se amplie.

Portanto, sinto que estou perante um daqueles momentos em que só devo ouvir. E é certo que outros iguais virão.

Assim, é de livre vontade que me remeto ao silêncio. É nele que acolho os seus sentires – independentemente da natureza – tristes, inseguros, esperançosos. É nele que os reconforto. É nele que me transfiguro em melodia.

Como tal, aceite estas breves pautas de verbos silenciosos. Ambos já lá somos!

Apenas uma nota final.
Não pense que me será difícil imaginar “um feminino sem eu”. Antes pelo contrário. É-me perfeitamente natural.

Não há eu. Há nós! O eu é, quando muito, a totalidade dos átomos do Universo. A dimensão dessa entidade é de tal ordem que dificilmente é percebível. E como é algo que escapa à escala da compreensão humana, igualmente não é perceptível. No entanto, é. Existe!

Volto a referir o seguinte: o Universo são átomos e não um átomo.
“Nós” é o termo adequado porque a essência é plural.
Para mim – e sabe que a designo como tal – o nome dessa entidade é: MULTI-VERSO.

Um beijo terno, doce alma.

Até breve,

V.


Cartas frente ao Mar (V)

Minha Querida,

As suas palavras são minhas, embora expressas doutra maneira.
Ainda bem! Assim, as minhas também são suas.

Metafísica! Consciência! Dialéctica! Reconhecimento! Ser!
Temas onde somos plenitude. Temas onde ainda seremos muito mais.

Quando nos percebemos num determinado nível de consciência, nenhuma história é representativa num, nem por um, único período. Vários tempos são necessários. Porque, como já referi, não há tempo à escala humana.

Entendo perfeitamente!
O ser que fazemos, permite-nos ver o fogo que arde na chama invisível do Ser supremo.
E virá a altura em que também seremos a flama azul do intemporal. Completamente dispensados da forma humana, mas à qual poderemos sempre retornar.
Lembre-se, nada é sem o livre arbítrio.
Se calhar já o fizemos? Quantas vezes não sei.
Apenas reconheço a sua energia ou, se preferir, a sua luz.

Por isso, vá em paz a Salzburg. E não se preocupe se por lá ficar. Não será a sua totalidade, mas apenas uma parte. Nada é igual ao inicio. Tudo evolui!
O que realmente não devemos permitir é que algo nos impeça de progredir. Vá sossegada!
Creia que sempre a reconhecerei. A todos os níveis: o seu passado, o seu presente e o seu futuro.
É o coração quem reconhece!

Quanto a eventuais dúvidas, repare que fluem neblinas das águas que descem pelas cascatas. Tanto antes, como durante e depois só existe vida. Pela multiplicação das possibilidades!
O que recordar nesta sua viagem será uma dádiva. Será um exemplo concretizado que o todo que é não é apenas a soma das partes.
Vá, e renasça. Regresse e entregue-se ainda mais ao sentir.

Quanto às palavras, “matéria mais sublime desta Vida”, é precisamente a escrita que nos faz. E une! Quer pela simbologia matemática como pelo significado das letras. Num grau de incomensurável agregação. Não o sente?
Nós somos a escrita flamejante nos mares dos tempos. A mais pura das interioridades!

E desculpe-me este ultimo expressar, mas espero só ser biograficamente nos reencontros.
É principalmente aí que acontece o reconhecimento. Apesar de este se prolongar em flutuações quânticas que preenchem, por exemplo, as linhas do “caderno epistolar”, é nesses momentos que o coração mais pulsa.

Assim, se alguma vez escrever a minha biografia, faça-o nesta grandeza: Vibrava nos reencontros.
E eu sempre voltarei.

Beijo terno, doce alma.

V.


Cartas frente ao Mar (IV)

Minha Querida,

Talvez não consiga evitar alguma tristeza por tristezas que involuntariamente lhe tenha provocado. Talvez?

Apesar de nos sabermos no Uno da alma, todo o nosso percurso experimentou distancias. E outras acontecerão. Provavelmente assim é que deve ser. Para sentirmos ainda mais todos os instantes em que nos reencontramos. De cada vez que tal sucede, formamos diferentes tons de luz.

Os sinais das sombras e das fontes também são trilho para a iluminação. Eu sei disso. Mas apesar desta consciência, apesar de saber que sempre nos iremos reencontrar, a verdade é que sinto a sua falta cada vez que nova evolução ocorre.

Mas toda a renovação é necessária para completarmos a totalidade do espectro de luz. Creio que será precisamente assim que renasceremos na Luz antes da luz.
Nós não seremos unidade na diversidade, mas sim o ser da unidade ou, se preferir, o um da unidade. E é a partir daqui que jorra a diversidade!

Quanto a mim, não me parece que a mesma seja uma obsessão. Julgo que será o destino. O passo no sentido do equilíbrio entre tudo o que há e não há no MULTI-VERSO imemorial.

Fala-me do futuro já passado? Também lá fui. Aceito-o! Mas procuro considerar o presente.
Quantas projecções passadas não fazem o futuro?
Ambos os extremos, passado e futuro, são necessários para a visualização do contínuo, mas é no presente que nos encontramos, que nos fazemos, que nos sentimos. Infinitamente! Não concorda?

Pergunta-me o que são as saudades?
As saudades são as intermitências da consciência. São a voz do coração nos invólucros da alma.
E manifestam-se nos diamantes do tempo.
Por isso, as lágrimas são cometas no universo. Não há fogo de luz mais genuíno.

Ainda bem que temos saudades.

Apesar de toda a minha estrutura lógica, cedo aprendi que há coisas que não se explicam. Sentem-se!
Assim, deixo-me ir na fluência das águas. Tenho a esperança que elas me devolvam à felicidade. Outra e outra vez! Tal como continuamente o fizeram.
Às águas entrego-me. Poderia dizer que lhes entregava a minha plenitude. Mas isso, só uno consigo.

Será na intensa densidade desse tempo que encontraremos as águas azuis da Luz!

um Beijo terno, doce alma.

Até breve

V.


Cartas frente ao Mar (III)

Minha Querida,

Ao ler as suas linhas, não consigo deixar de sentir uma multiplicidade de sensações.

Transbordo de felicidade ao ser, também, na irradiação do espírito da sua alma.
Plenamente comovido pela sua emoção. Que sinto intimamente e que dela me julgo catalisador.

Depois, pela riqueza sensorial expressa nas suas palavras, há uma dupla certeza:
da sua expansão a outras dimensões e o ser noutro, ou melhor, num “novo estado de consciência”.

O tempo fez-se para nós. Disso não tenho qualquer dúvida.
Mas também é verdade que andei (andamos?) tresmalhado pelas eras.
Talvez por essa razão haja a tal ambiguidade do sentir. De contentamento em todos os casos. De felicidade em alguns mais concretos.

Fico imensamente feliz em a sentir nesse estado. Em perceber a sua perplexidade na não correspondência. Daí que compreenda esse seu desejo em regressar a Salzburg, que aliás já tinha sido anteriormente manifestado. Oxalá se revele o que procura. E que outra busca se inicie.

Neste caso particular, apenas lhe agradeço, e faço-o profundamente, o partilhar comigo das suas recordações que, entre nós, são sensações.
Aguardo, serenamente, o tempo das próximas.

Sei-me parte em todas as dimensões que são.
Sinto-o. Tal como percebo o cristalino do fluir em fluir.

É por isso que sempre irei consigo. A minha energia já é com e na sua!

Ternos beijos, doce alma,

V.


Cartas frente ao Mar (II)

Minha Querida,

Como a compreendo!
Olhamos para o permanente transcendente que nos rodeia presos pelas grilhetas da realidade material. No entanto, não devemos deixar de ser humanos. A materialização temporária em tempos precisos é necessária para a percepção do todo que nos transcende. Só assim percebemos que não há tempo à escala humana.

Mas, para nos tornarmos mais, temos que nos saber humanos. São as emoções que experimentamos enquanto homens que nos levam ao portal do transcendente, onde o tempo imemorial de Ser é.

Não sei se sei o suficiente para explicar, ou para tentar explicar.
Apenas sei que as dúvidas são necessárias à evolução.
Só lhe posso dizer que, a mim, impelem-me na procura das respostas. Não só pelo pensar, mas principalmente pelo sentir.

Se há momentos que somos turbulência sensorial também há momentos em que somos meditação em paz. É nessas alturas que o transcendente nos acalma e nos indica a ordem.
Assim, esses momentos em que somos confluência acontecem por estarmos mais expostos ao belo. Estou certo que o exprimir aparecerá por si.

Tudo se adequará. O MULTI-VERSO sabe mais do nós.
Para além disso, esperar que a palavra se congregue terá a sua utilidade … em vários sentidos. E alcances.

O humano é um patamar na evolução cósmica do ser.
Quanto a mim, é um “constrangimento” necessário, pois o re-conhecimento deve dar-se a todos os níveis – até humano – devendo sê-lo tanto para o interior como para o exterior. Tanto connosco como com os outros.

E aqui emerge a importância da simbologia dos versos. Porque os versos não são todos iguais!
No entanto, é precisamente assim que deve ser, pois os sentires não são todos idênticos. Não se trata de alguma relatividade. Trata-se de diferentes interacções com as distintas frequências de Luz que nos rodeiam ou, se preferir, com o arco-íris que une todas as dimensões do Ser.

Por isso, a sensibilidade é o catalisador do transcendente.
Por isso, o agitar dos véus da consciência universal não é para todos ao mesmo tempo.
Porquê? Porque tudo resulta de uma escolha livre e individual. Sem vontade, não seremos mais.

A Alma é a ínfima parte do Ser do MULTI-VERSO que nos incorpora. Talvez por isso. Talvez?

As interioridades resultam do sentir ou, se preferir, dos oceanos de sentir. Estou certo que não se importará. Julgo até que se comoverá.

De qualquer maneira, também eu tenho que me desculpar. Não sou imune ao seu sentir nem aos seus sentires. Daí que alguns fragmentos emerjam dispersos nestes verbos.

E até ao limite da minha compreensão, que é finito, respeitarei. No entanto, não posso deixar de sentir tristeza, por estar “ainda mais só”. Paradoxalmente, é bom sinal. É o meu humano a falar.

Um beijo terno, doce alma.

V.


Cartas frente ao Mar

Minha Querida,

Que lhe hei-de dizer?

O instante da criação deixa de o ser quando o é.
É, por isso, algo necessariamente anterior.

Para o poeta,
em cada letra há um portal,
em cada palavra um universo.
Já num livro, apenas há a expressão do sentir.

O verbo original é a representação do sentimento, não concorda?

Talvez o Poeta almeje uma singularidade – um simultâneo retorno e recordar – que o devolva não à sua criação, mas ao momento em que foi originado.

E, embora frágeis tentativas de reprodução da majestade do silêncio ou do esplendor da luz, aí sim, os poemas serão a figuração dos sons.

Quanto ao português, é uma língua – prefiro o termo expressão – possuidora de uma dimensão maior. A melodia que emana da sua pronunciação é distinta. Diria até única.
Para mim, se mo permite, é equiparável a uma expressão litúrgica dos cosmos.

Por fim, o indizível.
O Indizível encontra-se no colectivo humano. Todos somos feitos por partes de todos.
Se víssemos a espécie como um todo, a harmonia seria uma realidade.
Sólon sabia-o! Infelizmente, dele já restam poucos vestígios.

Deixo-lhe um beijo, doce alma.

V.