Cartas Frente ao Mar (XIV)

Minha Querida,

há momentos em que o poema do Mar Céu mais me chama.
Quando as orlas das vagas são crinas de luz que anunciam o amanhecer.
É nesse apelo que sinto a sua vibração. No silêncio do horizonte índigo.

Contudo, as mesmas águas que tecem o nosso amor são a razão da distância, numa razão que, simultaneamente, me fortalece e enlouquece.

É nesta condição que percorro as areias da fronteira, aspirando a transfiguração que possa levar o meu vibrato até si, expressando o Verbo que me dilacera neste tempo de ausência.
Percorro os grãos dourados suspirando pelas névoas matinais, onde raios de luz moldam a sua face.
Só assim é que, num ténue e incessante arrepio que me arrebata em ondas de paixão e nostalgias, os seus lábios me tocam.

Frente ao Mar, as saudades são uma certeza!
No entanto, também afastam os ventos da tristeza dando som à voz do coração, onde me preencho em lembrança.

Mas serão as minhas cartas suficientes para acalmar as águas revoltas?

Por isso, é na praia que solto as lágrimas!
Para a união do desejo, para a redenção do amor que renasce no embalo das ondas.
Sim. É na praia que liberto as lágrimas!
Porque as pérolas são necessárias à beleza.

Enquanto houver ondas, o meu amor será constante.
E nos dias em que o mar se reveste jade, mais brilha a sua recordação em mim.

Um beijo terno, doce alma

V.

5 responses

  1. Não podia deixar de comentar um texto como este!
    As palavras que profere são muito percebidas da minha parte. Gostei imenso da intensidade que transmite com as mesmas!
    Irei certamente cá voltar 🙂

    Abraço, AS

    Julho 10, 2010 às 00:49

  2. oceanus

    “Enquanto houver ondas, o meu amor será constante.”

    que belo Vicente …

    … as tuas palavras são a própria força das ondas…

    um abraço

    oceanus

    Julho 13, 2010 às 22:27

  3. Vicente, meu poeta querido!

    Poucas pessoas tem essa dimensão ao olhar o mar. Para mim, ele traz a percepção da eternidade. É em frente ao mar que medito, questiono e o percebo quase a conversar comigo.

    Infinita beleza contém esta carta!

    Que sejam sempre benditos os que amam e se surpreendem na rotina da natureza.

    Forte abraço!

    Mirze

    Julho 16, 2010 às 01:28

  4. Maria Antónia Moreira Anacleto Pereira Leite

    Gosto do mar…Gosto das tuas palavras que são pérolas…Gosto muito de ti.

    Julho 21, 2010 às 01:18

  5. I

    Mergulho nestas cartas de amor tão singelas quanto brutais.

    Agosto 9, 2010 às 09:41

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